COLUNA POR UM
DE PORCOS E ELEIÇÕES
Estamos em ano eleitoral (pobres de nós…) e devemos nos preparar para o desfile de personagens medíocres invadindo nossos lares seja através da televisão, rádio, autofalantes, panfletagens e, coisa incômoda, os pedidos de amigos e aderentes para tal ou qual candidato.
Confesso a minha desilusão com o sistema eleitoral vigente em todos os níveis neste país de bananas, principal vetor da disseminação da corrupção galopante que grassa nesta terra dos tupiniquins.
Não tenho a menor intenção em participar de qualquer eleição, porque em meus mais de trinta e cinco anos na Maçonaria acumulei decepções suficientes para esta vida e não quero passar novamente por todos os constrangimentos enfrentados nas eleições das quais participei, mesmo naquela em que sai vencedor, por constatar que em todas as campanhas meu nome foi jogado na lama com as acusações as mais torpes possíveis e imagináveis, tudo isso justificado pelo desejo de se sair vitorioso nas urnas, não importando os meios…
Digo isso porque há pouco tempo um amigo perguntou-me que, caso ele se candidatasse ao cargo de Grão Mestre de nossa Potência poderia contar com meu apoio… confesso que senti um frio na barriga ao ouvir a pergunta, entretanto falei francamente de minha disposição em não participar de forma alguma e que pretendia me manter longe de tudo isso.
Este assunto ligou-me ao gasto excessivo dos candidatos em busca de uma vaga politica e lembrei-me da expressão: dinheiro pra pelar porco!
Antigamente era costume das famílias criar no fundo do quintal um ou dois porcos capados para engorda, porque do animal provinha muita fartura em forma de carnes, lingüiças, toucinho, banha, pele para cozinhar no feijão ou como pururuca, ou seja, do suíno só se perdia o pelo, porque as orelhas, rabos e pés eram destinados à feijoada de sábado. Entretanto, para tirar o pêlo era complicado e os métodos utilizados às vezes chegavam a ser perigosos.
Normalmente, após o abate do animal, colocavam-no em cima de tábuas, inteiro, e jogavam álcool por todo corpo e ateavam fogo. Enquanto queimava os homens iam raspando o couro do porco com facas e tirando os pelos e depois as unhas.
Outro método era usar água quente, mas na roça utilizavam-se mesmo as palhas de milho inservíveis, isto é, no paiol, após descascar o milho, as palhas melhores eram separadas para enchimento de colchões – como era gostoso dormir em um daqueles colchões – ou ainda para preparar maços destinados a confecção de cigarros e outras aplicações. O resto era destinado a sapecar porcos…
Juntava-se um monte de palhas sobre o animal deixando outro tanto preparado para manter o fogo acesso e à medida que “sapecava” o pessoal procedia da mesma forma com as facas. Então, para pelar um porco havia necessidade de um monte de palhas imprestáveis ou que não seriam aproveitadas para mais nada, portanto poderiam ser queimadas que não fariam falta no paiol.
Desta prática nasceu a expressão popular do “dinheiro pra pelar porco” quando se queria destacar um vultoso gasto de dinheiro, mas insignificante para o dito cujo possuir do mesmo.
Fazendo analogia com os processos eletivos em vigência nesta terra descoberta por Cabral, conclui que para se alcançar êxito nas urnas o candidato deve antes se precaver com as “burras” cheias de dinheiro pronto para ser desperdiçado, jogado fora, ou “pelando porco”, porque a necessidade de comprar consciências alheias, cada vez mais caras, é fator preponderante na vitória das urnas, ainda que essas consciências não valham a enésima parte do dinheiro gasto nas aquisições.
Quem se vende não merece o valor recebido…
Porto Velho, RO, 21 de maio de 2012.