Por volta dos anos 1960, quase chegando aos 70, a comunicação neste país era um caos total e a população se valia das cartas e telegramas para dar e receber noticias de parentes e aderentes espalhados por este Brasil de meu Deus.
Telefone era privilegio de pouquíssimos e custava “os olhos da cara”, no dizer do povão. Para fazer um interurbano, além de demorado caríssimo, e a solução para quem tinha urgência, era enfrentar as cabines das empresas de telefonia, se munir de muita paciência e preparar a garganta, porque a comunicação era péssima tanto para falar quanto para ouvir. Era um tal “fala mais alto, num tô ti ouvindo!!!” ou “cuméquié? Num intendi nada...”.
Via de regra, não só as pessoas que também esperavam sua vez nas cabines, mas toda a população no entorno da empresa participava das conversas ao telefone, porque era preciso, quase sempre, gritar para ser ouvido e o resultado era a devassa nos segredos do próximo.
Antes das privatizações comandadas pelo então Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, um telefone fixo custava quase o valor de um carro e o quem-seja tinha que entrar em uma fila de espera longa e interminável.
Hoje, vivemos tempos diferentes, basta observar que no país existem quase 260 milhões de aparelhos telefônicos celulares, ou seja, quase um aparelho para cada habitante desta terra dos tupiniquins; os aparelhos fixos são quase obsoletos, além da facilidade encontrada para ter uma linha em casa: basta requerer e pronto: em questão de horas a família dispõe dos serviços de telefonia fica, cujas taxas são caras e o serviço não é lá essas coisas.
De todo este aparato de aparelhos, sabem quanto o Brasil lucra, por exemplo, com a telefonia celular? Nada, se comparado ao lucro que é enviado para fora, i.e, dos quase 260 milhões de aparelhos, não há sequer um parafuso fabricado no Brasil, tudo é importado e, logicamente, os royalties são destinados a quem de direito: os fabricantes em outros países.
Não sou economista, mas quando vejo na tribuna do Senado um senador apontar dados da mídia especializada onde informa que no período de 2006 a 2010, o Brasil aumentou sua taxa de importação em 100%, dobrou as importações, enquanto no mesmo período a exportação teve um acréscimo de apenas 5%... é isso mesmo, cinco por cento, fico preocupado com o que está acontecendo neste pobre e belo país.
O que o Brasil importa? Manufaturados cuja matéria prima é obtida principalmente nos países em desenvolvimento, Brasil, um deles.
A taxa de juros em torno dos 12,5% ao ano é uma das maiores do mundo, o que atrai para cá o capital especulativo, mas não o investimento em nosso parque industrial, com isso perdemos qualidade e, conseqüentemente, mercado externo e também o interno, pois as importações chegam a preços tão competitivos que nossos produtos se tornam inacessíveis aos povo. É mais barato comprar produtos da China do que do ABC paulista.
Em 1946, quando decidiram que o dólar seria a moeda internacional, todos os países participantes do acordo deveriam fazer seu dever casa, ou seja, criar fundos em ouro para lastrear a nova moeda, pois somente assim ela poderia ser internacional, no entanto, o que se viu, foram os ditos países deixarem por conta dos Estados Unidos a tarefa de gerenciar a moeda e o resultado não se fez por esperar: como a moeda é a mesma do país, cada dólar emitido representa bônus do tesouro nacional de tio Sam.
O Brasil recebe esses dólares e paga uma taxa de 12,5% ao ano e tem o “lucro” advindo deste investimento, baseado na lucratividade dos tais bônus norte americanos: 2% ao ano! Dá para entender? Como é possível que invista 12,5% e receba apenas 2%? Não é preciso ser economista para entender que esse sistema quebra qualquer país, mas porque o Brasil ainda não quebrou?
A resposta está nas commodities brasileiras, as quais se podem contar nos dedos de uma mão – e sobrarão dedos – e as principais são o agronegócio e os minerais, entretanto, em todas elas ocorre a perversão do sistema: exportamos matéria prima e importamos manufaturados oriundos das mesmas. A única exceção está na EMBRAER, cujo trabalho desenvolvido pelos engenheiros brasileiros é hoje requisitado no mundo todo. Inclusive, tais engenheiros conseguem fazer voar nossos velhos e ultrapassados caças, graças a tecnologia desenvolvida em São José dos Campos.
No agronegócio, exportamos grãos, notadamente soja, matéria prima que é beneficiada nos países mais desenvolvidos, cujos produtos importamos para nosso consumo, pagando royalties e enviando lucros para o exterior.
Com relação ao minério, o negocio é ainda mais serio, porque exportamos o minério de ferro, por exemplo, em estado bruto. Chegando ao destino, esse minério é limpo e a sobra, o resto, composto por terra, areia e pedras outras, é vendido para outros países que necessitam de terra, a Holanda, por exemplo, assim, se você tiver a oportunidade de visitar aquele país e admirar seus diques de contenção do mar, provavelmente ou quase certamente, você estará pisando terra brasileira, que saiu daqui de graça e foi vendida pelo importador, barateando assim seus custos.
O minério beneficiado volta para o Brasil em forma de chapas e vigotas de ferro e aço, aos quais pagamos preços caros e, mais uma vez, enviamos royalties para o exterior.
Esses casos são apenas a ponta do iceberg de nossa economia, porque o resultado de uma política econômica errada se traduz na imensa divida interna do país, que hoje está em um trilhão e setecentos bilhões de dólares, por isso que toda a receita advinda da pesada carga tributária (a mais alta do mundo) é destinada a pagar os juros da divida.
A coisa é tão séria, que a “Presidenta” Dilma, ao conceder aumento de 19% ao Bolsa Família, teve que buscar no Banco Mundial um empréstimo de 250 milhões de dólares, enquanto aos aposentados do INSS o aumenta pouco passou dos 6%. É claro, qual o peso político dos aposentados, principalmente quando confrontado com o Bolsa Família, o maior cabo eleitoral deste país?
Cabe aqui uma pergunta que não quer calar: até quando?
Até quando o brasileiro será enganado de maneira tão torpe, manipulado em currais eleitorais, ludibriado em seus direitos a uma educação de qualidade que tire o povo da condição de analfabeto político, o pior entre todos os tipos de analfabetismo?
Até quando a saúde continuará na UTI do descaso público?
Até quando a segurança pública será refém da criminalidade organizada?
Até quando as rodovias federais e estaduais continuarão a ser as “rodovias da morte”?
Até quando o transporte público será um dos piores do mundo?
Até quando o sistema carcerário não passará de deposito humano?
Até quando a corrupção continuará a ser institucionalizada?
Até quando?
Porto Velho, RO, julho de 2011.
Walter de Oliveira Bariani
Escritor e Poeta.